Presença marcante na última década da cena carioca, Marcelo Callado atesta sua maturidade musical no terceiro álbum solo. “Caduco” entrega uma nova coleção de canções unidas por uma lírica sincera e uma sonoridade múltipla que vai da música brasileira ao rock, passando por tons de indie e pop. O disco sucede os bem recebidos “Meu Trabalho Han Sollo Vol. II” e “Musical Porém”. Agora, Callado revela mais uma faceta em “Caduco”, já disponível nos serviços de streaming pelo selo RockIt!.
Cantor, compositor e multi instrumentista, Marcelo Callado é nome de referência na bateria, que ocupou ao lado de projetos como a Banda Cê - que acompanhou Caetano Veloso nos palcos - e o grupo Do Amor, além de se apresentar ao lado de nomes como Ava Rocha, Alice Caymmi, Branco Mello, Kassin e Jorge Mautner. “Caduco” marca mais uma reinvenção do artista, que vem desenvolvendo uma voz própria em canções altamente confessionais.
É o caso do primeiro single, “Só por hoje”, em que a letra surge como um mantra, uma promessa de viver um dia de cada vez de cara limpa - em uma referência direta à própria relação de Callado com entorpecentes. Igualmente intimista, “Corais laranjas”, segunda canção revelada do álbum, traz a familiaridade de um parceiro de longa data: Gustavo Benjão, também do Do Amor, com quem assina a letra. Em “Meu feito”, o compositor se despe de qualquer efeito, mostra seus defeitos ao seu jeito e conclui: “de perto ninguém é perfeito”.
Nesse entrega pessoal, Marcelo convida a uma conexão emocional com o ouvinte. Tirando inspiração da brevidade das coisas, canções como “Meio dia” e “Hora grave” trazem olhares diferentes sobre o tempo. Enquanto a primeira se debruça sobre a aparente banalidade de uma tarefa cotidiana como lavar louças, a última se torna uma “colaboração” com o poeta alemão Rainer Maria Rilke em uma interpretação melancólica de seu lugar no mundo.
Faixas como o experimentalismo romântico dos dois versos de “Nosso beijo” e o concretismo poético de “Meu sol” (esta, parceria com Ricardo Dias Gomes) revelam uma dedicação especial aos coros do disco, utilizando as vozes como verdadeiros instrumentos para criar harmonias, ambiências, texturas. A instrumentação se completa com o próprio Callado se desdobrando no piano, cordas, tambores, percussões. Além disso, ele conta com as participações especiais de Melvin Ribeiro no baixo de “Exist Exist”, enquanto o co-produtor Martin Scian deixa sua marca também nas teclas e cello.
Se “Demodê” expressa uma despedida precoce, “Contrafluxo” muda o rumo e volta ao início, enquanto sentencia: “quando um homem se esconde/o final que surgiu/é foguete num clarão/um sinal que ninguém viu”. O álbum soa como uma jornada porque é: “Caduco” foi feito ao longo de 10 dias em um processo artesanal intenso e de entrega total. As canções, compostas uma a cada dia, foram construídas em sessões no estúdio que começavam sempre às 12h, ao lado de Martin Scian, e iam até tarde da noite tendo como ponto de partida apenas uma letra, uma melodia vocal e um violão. Lá, elas se transformavam e eram lapidadas em composições ora verborrágicas, ora minimalistas - mas sempre desinibidamente sinceras.
“Caduco” já está disponível nos serviços de streaming de música por meio do selo RockIt!, também responsável pelo lançamento de “Musical Porém”, o álbum anterior de Marcelo Callado, e de outros expoentes da cena carioca, como o elogiado “Pa7”, de Antonio Neves; e “Sideral”, d’Os Dentes.
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