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Resenha: Clarice Falcão - Problema Meu




Clarice Falcão é uma multi-artista. Atriz, roteirista, blogueira, cantora, compositora e humorista. Ganhou destaque participando de novelas e filmes da rede globo e como atriz e produtora do canal humorístico do youtube "Porta dos Fundos", mas faltava algo para a humorista, e eis que em 2012 a moça se joga na música. Monomania, seu disco de estreia teve grande recepção de público, mas uma recepção morna da crítica especializada.  Realmente "Monomania" não é um trabalho grandioso, na realidade é um disco muito simplista, letras curtas, as mesmas sequências de notas e uma Clarice com limitações na voz; era um disco que encantava mais pelo teor humorístico e sádico das canções e pela meiguice de Clarice, do que pela obra em si.

 O tempo passa e acontece alguns fatos na vida de Clarice; temos aqui o conturbado término de namoro com o colega de profissão ; a reação da mídia quanto a isso ( além de uma carta aberta direcionada a Clarice publicada por seu ex), a saída do Porta Dos Fundos para se dedicar totalmente a música e o engajamento com o movimento feminista. Clarice estava com a vida em euforia, mas tempo livre para a música, então aproveitou-se disso e lançou "Problema Meu", seu segundo álbum de carreira, e nele, Clarice não comete mais os erros de "Monomania" mantendo apenas sua característica principal, letras,satíricas e de teor psicopata.


"Queria te dizer que esse amor todo por você ele é irônico" canta Falcão em Irônico, faixa de abertura de seu álbum. A faixa trás um arranjo mais pop e a letra é uma sátira a todos esteriótipos que Clarice e seu ex  representam, além dela dar resposta a tal carta escrita por ele : 

Eu gosto de você como quem gosta
De um vídeo do Youtube de alguém cantando mal
Eu gosto de você como quem gosta
De uma celebridade B

Eu já achei quem eu amasse de verdade
E eu pensei que era muito bom amar
Mas vai que alguém espalha isso na cidade
Com que cara eu vou ficar?

"Eu escolhi Você" a segunda faixa do disco vem acompanhada por polêmicas. O clip da música vem recheado de closes em genitálias tanto femininas como masculinas. A música é um pop chiclete e a letra fala de forma humorística sobre relacionamentos de Clarice: 

Na minha vida já existiram
Cinquenta opções de amor
Quarenta e nove desistiram
E você foi o que sobrou

Canta Clarice 

"A volta do Mecenas" terceira faixa começa agitada, ao som de guitarras e Clarice cantando sobre Mecenas; nessa faixa Clarice se refere a Caio Mecenas, conselheiro do Imperador Augusto de Roma, que gerou o termo Mecenato: Patrocínio e incentivo  a artistas e literatos .

"Deve ter sido Eu" nos lembra um pouco as letras do seu primeiro álbum, Clarice canta sobre possivelmente fazer torturas a atual de seu ex. E canta sobre o ódio que nutre por ela, mesmo não se lembrando do seu antigo companheiro. 

Após a psicopatia de "Deve ter sido Eu", temos a cômica "Marta"e, nela Falcão canta situações que acontecem com uma mulher que ela não conhece chamada Marta. Como ela sabe os fatos sem saber quem é a tal Marta ? Seu número de telefone é parecido com o dela. Uma das mais engraçadas do álbum

 "Se esse Bar Fechar" é a canção mais triste do álbum. Clarice fala sobre sua dependência a um bar, sobre sua rotina lá, e a espera de alguém nessa bar, que por sinal já está na hora de fechar. A letra é algo típico de Clarice, mas aqui ela abandona o humor comum em suas letras e adota um tom mais triste e obscuro; uma música fora de sua zona de conforto. 

Após a triste "Se esse Bar Fechar", chegamos a poderosa "Eu sou Problema Meu" sétima e melhor faixa do álbum. Cantada de forma simples e com letra com um tom humorístico, "Eu Sou Problema Meu" vai além da imagem principal, a música é um tapa na cara. Clarice fala sobre abusos de relacionamento, sobre empoderamento e sobre liberdade pessoal.

"E quando eu disse sim aquela hora
  Eu disse sim aquela hora

  Eu não disse sim por toda a eternidade" 

A letra aborda o feminismo,movimento ao qual Clarice se envolveu. É uma letra profunda, mas ao mesmo tempo descontraída. Acho que todos deveriam entender e viver o recado que Clarice passa.

"L'Amou Tourjours (I'll Fly With You)" é um cover da canção de Gigi D'Agostino. Clarice dá uma boa interpretação a música, mas tanto o teor lirico quanto o arranjo da música não combinam com o restante do álbum, ficando assim uma canção deslocada. 

"Como É Que Eu Vou Dizer Que Acabou" começa animada e alto-astral. O título já entrega a letra, Clarice começa a cantar sobre coisas diversas com a intenção de como dizer que acabou. A letra não é muito diferente de outras que Clarice compôs, mas o arranjo acompanhado de sintetizadores e a métrica da faixa a torna muito divertida de se escutar. 

"Duet" décima faixa do álbum e segunda cantada em língua estrangeira. Traz um arranjo mais clássico e uma interpretação em sintonia com o arranjo. Mas não se engane, a letra traz a acidez de Falcão e o deboche de sempre, só que em outro estilo.

Quando em seu primeiro álbum foi lançada a faixa "Oitavo Andar" todos começaram a comparar Clarice a uma psicopata, em"Banho de Piscina" a agressividade de Clarice é muito pior. Ela fala sobre querer ver seu ex tomando banho numa piscina de óleo fervendo, pedindo socorro e ela oferecendo uma dose de rum para se esquentar. O motivo do seu desejo ? Clarice pegou o ex a traindo com seu segurança. É o que diz a letra. 

"Vinheta parece uma canção descartada de seu primeiro álbum "Monomania". Não é uma canção ruim, pelo contrário. Mas traz uma narração e estética que ficaria melhor em seu primeiro trabalho, mas não perde o mérito, é uma faixa engraçada e bem planejada. 

Na faixa "Eu Sou Problema Meu" eu disse que à faixa era um tapa na cara. "Vagabunda" penúltima faixa não é um tapa, é uma surra no ouvinte. Clarice canta a supostamente à amante de seu parceiro, mas ela não a culpa por seu envolvimento, ela coloca a amante como vítima assim como ela. Ela usa o termo Vagabunda, que por mais pejorativo que seja é sempre utilizado em casos assim.

Toma um chopp comigo, vagabunda
Que eu sei a vagabunda que eu sou
Repara, que conexão profunda
De ter compartilhado um mesmo amor

Clarice se equipara a amante, ambas são "vagabundas". Nessa música ela desconstrói a imagem de que as mulheres são sempre as vagabundas da relação, enquanto os homens saem impunes e vitimizados, existem outros detalhes nas entrelinhas, ela convida a amante a se juntar a ela, a seguirem juntas e não a ficarem uma contra a outra; a música fala sobre competição feminina e sobre mulheres sempre serem direcionadas e se odiarem ao invés de combater o seu verdadeiro opressor. A música também nos permite ter várias interpretações e nos remete a várias situações diferentes. Nessa faixa Clarice não usa eufemismos e humor para desconstruir algo, Falcão coloca o dedo na ferida e dá a cara à tapa. Vagabunda é a mais poderosa faixa do álbum; uma canção de sororidade. 

Chegamos a última faixa do álbum "Clarice", nela Clarice fala sobre críticas que recebeu em seus trabalhos ( como eu mesmo mencionei no inicio da resenha). Ela cita cada falha: Canções com apenas três acordes, letras rasas, limitações, etc. Clarice surpreende ao aceitar e citar suas falhas; Clarice poderia talvez ter mostrado que sabia fazer algo mais elaborado, mas preferiu manter-se fiel a seu estilo.

E chegamos assim ao fim do segundo trabalho de Clarice. Clarice supera algumas falhas apresentadas no inicio de sua carreira, mas não entrega um álbum perfeito e muito superior. Temos aqui músicas excelentes como "Vagabunda"; "Eu sou Problema Meu"; "A Volta do Mecenas" e "Marta". Mas ainda temos canções dispensáveis como "Clarice" e "Duet". No fim temos um álbum morno mas agradável de se ouvir e até uma curiosidade de saber o que a cantora lançará em seguida. 

Nota- 7/10




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